A Polícia Federal (PF) finalizou as investigações que revelam um esquema de espionagem ilegal operado dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com os investigadores, servidores da agência e policiais teriam formado uma organização criminosa para monitorar autoridades e cidadãos, acessando dados de celulares e computadores sem autorização judicial.
Segundo a PF, Bolsonaro não só tinha conhecimento das atividades clandestinas como também se beneficiava diretamente delas.
Alvos da espionagem ilegal
O levantamento da Polícia Federal identificou que foram espionadas autoridades dos três poderes, além de jornalistas. Entre os nomes monitorados estão:
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Poder Judiciário: Ministros do STF — Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux.
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Poder Legislativo: Arthur Lira (presidente da Câmara), Kim Kataguiri (deputado), e os ex-deputados Rodrigo Maia, Joice Hasselmann e Jean Wyllys. Também foram alvo os senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues, especialmente durante os trabalhos da CPI da Covid.
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Poder Executivo: O ex-governador de São Paulo, João Doria, servidores do Ibama — Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges —, e três auditores da Receita Federal: Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.
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Jornalistas: Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.
Como funcionava o esquema?
As investigações, iniciadas em 2023, apontaram que a Abin foi usada para invadir dados e monitorar pessoas consideradas adversárias do então presidente. O principal instrumento utilizado foi o software FirstMile, capaz de rastrear, em tempo real, a localização de celulares e acessar informações privadas sem qualquer autorização da Justiça.
O caso veio à tona após a deflagração da Operação Última Milha, em 2024, que cumpriu dezenas de mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. A operação teve origem no inquérito das fake news.
Família Bolsonaro também teria se beneficiado
De acordo com a Polícia Federal, o esquema também foi utilizado para proteger membros da família Bolsonaro. Há indícios de que agentes da Abin tentaram encontrar informações comprometedoras contra os auditores da Receita Federal que participaram da apuração do caso de “rachadinha” no gabinete do senador Flávio Bolsonaro.
Além disso, a investigação aponta que o chamado “gabinete paralelo” buscou fabricar provas para beneficiar Jair Renan Bolsonaro, o filho mais novo, que em 2021 era investigado por suposto tráfico de influência. As ações incluíram o monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan, e do empresário Luís Felipe Belmonte.
O que é a Abin e qual sua função legal?
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é responsável pela produção de informações estratégicas que ajudam a Presidência da República na tomada de decisões. Suas atribuições incluem:
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Realizar ações de inteligência, inclusive de forma sigilosa, para proteger a segurança do Estado;
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Avaliar riscos e ameaças internas e externas à ordem constitucional;
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Proteger informações sensíveis do governo e da sociedade;
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Executar atividades de contrainteligência, prevenindo espionagem, sabotagem e vazamento de dados.
Diferente de modelos adotados em outros países, a Abin reúne tanto atividades de inteligência interna quanto externa.