Antes dos famosos ovos de chocolate se tornarem protagonistas nas comemorações de Páscoa, o ato de presentear com ovos era muito mais simples — e cheio de significados. O costume tem raízes antigas e atravessa culturas e séculos, muito antes da celebração cristã da ressurreição de Jesus.
Neste artigo, entenda como surgiu essa tradição e como ela evoluiu até os dias atuais, com respostas para as principais curiosidades sobre o tema.
🥚 Por que o ovo é símbolo da Páscoa?
Muito antes da associação com a Páscoa cristã, o ovo já era um símbolo poderoso de fertilidade e renovação. Isso porque ele representa o início da vida, já que muitos animais nascem a partir dele.
Segundo Karla Nery, especialista em confeitaria do Senac, essa simbologia se estende ao coelho da Páscoa, outro ícone da data, conhecido por sua alta capacidade de reprodução — reforçando a ideia de fertilidade.
Na Antiguidade, o ovo era visto como tão essencial que, durante o Império Romano, acreditava-se que o formato oval representava o próprio universo. Na Idade Média, algumas correntes filosóficas defendiam que o mundo teria surgido de dentro de uma casca de ovo.
🌸 Como surgiu a tradição de dar ovos de presente?
Muito antes da influência do cristianismo, povos antigos já presentavam ovos durante celebrações sazonais, especialmente no início da primavera no Hemisfério Norte — um período que marca o renascimento da natureza após o inverno.
Esses presentes eram ovos comestíveis, como os de galinha, pato ou ganso. Após a troca, era comum cozinhá-los e consumi-los em rituais de renovação.
Com o passar do tempo, para tornar o presente mais bonito e especial, os ovos passaram a ser pintados e decorados. Os pigmentos utilizados vinham de fontes naturais, como beterraba e açafrão, conforme explica Katia, pesquisadora da área.
✝️ Quando o ovo se tornou símbolo cristão da Páscoa?
A simbologia do ovo como elemento de renovação foi incorporada ao cristianismo com a expansão da religião. Assim, passou-se a presentear ovos na Páscoa, data que celebra a ressurreição de Jesus Cristo.
👑 Como os ovos viraram itens de luxo na Europa?
Durante a Idade Média, essa tradição evoluiu e ganhou status entre a nobreza europeia. No século XII, por exemplo, há registros de que o rei francês Luís VII recebeu ovos como presente ao retornar da Segunda Cruzada, mesmo tendo sido derrotado.
A prática se popularizou entre as elites, que passaram a presentear com ovos feitos de materiais nobres, como porcelana, vidro e até ouro.
Essa tradição sofisticada culminou na criação dos icônicos Ovos Fabergé, produzidos pelo joalheiro Peter Carl Fabergé. Um dos mais famosos, oferecido pelo czar Alexandre III à imperatriz Maria Feodorovna, chegou a ser avaliado em US$ 20 milhões em 2014 e continha um relógio adornado com diamantes e safiras, segundo a BBC.
Quando surgiram os primeiros ovos de chocolate?
Foi entre os séculos XVII e XVIII, na França, que confeiteiros começaram a inovar com a criação dos primeiros ovos recheados — feitos com uma mistura de chocolate, açúcar e ovos.
Com o avanço da confeitaria, os moldes evoluíram e passaram a ser feitos inteiramente de chocolate, inicialmente com uma textura mais amarga e densa do que a dos ovos comercializados hoje.
A receita só foi ficando mais suave com o tempo, à medida que foram adicionados ingredientes como leite, manteiga de cacau e mais açúcar, proporcionando o sabor que se popularizou mundialmente.
Curiosidades sobre a Páscoa moderna
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Hoje, existem ovos de Páscoa para todos os gostos: com whey protein, maquiagem e até versões para pets.
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O costume de presentear com ovos decorados ou comestíveis resiste ao tempo e continua sendo um dos principais símbolos pascais em diversas partes do mundo.
O costume de dar ovos na Páscoa tem origens que vão muito além do chocolate. Ele carrega séculos de história, simbolismo e transformação cultural. Da fertilidade na Antiguidade ao luxo das cortes europeias, até se tornar uma verdadeira tradição doce, o ovo de Páscoa é um reflexo da nossa própria evolução social e religiosa.