Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem reforçado medidas voltadas para o fechamento econômico dos EUA. Com a aplicação de tarifas agressivas — o chamado “tarifaço” —, o governo norte-americano tenta impor suas regras no cenário internacional. A estratégia, segundo o professor de Relações Internacionais Gustavo Uebel, da ESPM, busca alterar o equilíbrio global sem o uso da força militar ou da diplomacia tradicional.
“Trump está tentando mudar a geopolítica mundial por meio de sanções e barreiras comerciais, sem precisar de guerras”, explica Uebel.
China lidera esforço por uma globalização mais inclusiva
Na direção oposta, o presidente chinês Xi Jinping tem reforçado o discurso em defesa da globalização. Em declaração recente, Xi pediu que o mundo se una contra o unilateralismo e a intimidação, em uma clara resposta à política comercial norte-americana.
A China vem ampliando sua atuação global com foco em regiões como África, América Latina e Europa. Segundo Uebel, o fortalecimento dessas parcerias é essencial para manter o crescimento econômico chinês.
Multipolaridade em transformação: EUA, China e Rússia disputam zonas de influência
A disputa entre potências já começa a desenhar uma nova configuração do poder global. Para Uebel, a tendência é que a atual multipolaridade dê lugar a três grandes esferas de influência, lideradas por EUA, China e Rússia.
Essa transição, ainda em curso, tende a se consolidar no longo prazo, mas já provoca impactos visíveis na forma como países e blocos regionais definem suas estratégias internacionais.
Europa ensaia aliança com a China em meio a conflitos com EUA e Rússia
A União Europeia, tradicional protagonista na geopolítica mundial, encontra-se em uma posição de vulnerabilidade, pressionada pelas tensões com os Estados Unidos e pelo conflito com a Rússia na Ucrânia. Nesse cenário, uma aproximação com a China parece cada vez mais provável.
Durante reunião com o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, Xi Jinping sugeriu uma cooperação entre Europa e China contra as políticas tarifárias dos EUA. Para Uebel, os europeus devem se aliar à China por falta de opções mais viáveis.
“A UE já não dita mais as regras. Diante do isolamento, a aproximação com a China é quase inevitável”, avalia o professor.
América Latina também entra no radar estratégico da China
A influência chinesa na América Latina, região historicamente dominada pelos interesses norte-americanos, também tem crescido. Em contato telefônico recente com o vice-presidente brasileiro Geraldo Alckmin, o ministro do Comércio da China discutiu o fortalecimento de organismos multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), sinalizando o interesse de Pequim em ampliar sua presença na região.